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domingo, 11 de dezembro de 2011

KA – Velimir Khlébnikov – Велими́р Хле́бников

Eu tinha Ka=; nos dias da Branca China=, Eva=, descendo na neve do balão de André=, ouvindo a voz "vai!", deixados nas neves esquimós os rastros dos pés nus, – esperança – estranharia, ao ouvir esta palavra. Mas o povo de Masr= j´a havia conhecido milhares de anos antes=. E ele não estava errado quando dividia a alma em Ka, Khu e Bha=. Khu e Bha = a fama, boa ou má, do homem. Mas Ka é a sombra da alma, seu sósia, enviado para junto daquelas pessoas, com que sonha o senhor roncador. Para ele não há barreiras no tempo; Ka vai de sonho em sonho, atravessa o tempo e alcança os bronzes (os bronzes dos tempos). Aconchega-se comodamente nos séculos, como numa cadeira de balanço. Não é acaso verdade que também a consciência reúne os tempos juntos, como poltrona e as cadeiras da salad de visita? Ka era vivo, gracioso, moreno, terno; os grandes olhos tuberculosos= de um deus bizantino e as sobrancelhas, como que feitas apenas de uns pontos apertados, ele os tinha no rosto de egípcio. Decididamente, ou nós somos selvagens comparados com o povo de Masr, ou ele havia acrescentado à alma objetos necessários e cômodos, mas alheios. Agora – quem sou eu. Eu moro na cidade, onde escrevem "banhos gratuitos", onde os selvagens= espertos olham com olhos cautelosos, onde sobem pelas árvores graças à criação de coelhos=. Lá uma selvagem olhinegra, com o fogo prateado, passa numa garça morta, que já foi caçada no outro mundo pelo esperto selvagem morto com a lança na mão morta; nas ruas pastam velofinos= rebanhos de pessoas, e emnenhum lugar sonha-se tanto com a coudelaria de Kherenov= da estirpe humana, como aqui. "De outra forma a humanidade perecerá," – cada um pensa. E eu escrevi um livro sobre a humanicultura, mas em volta vagueavam velofinos rebanhos de pessoas. Eu possuo meu próprio pequeno zoológico= de amigos, que me são caros pela alta linhagem; eu moro na terceira ou quarta terra, a partir do sol= e queira me portar com ela como com as luvas, que sempre se podem jogar aos rebanhos de coelhos. Que mais dizer de mim? Eu prevejo guerras terríveis para saber com que letra escrever meu nome – se com iat ou e =.
Eu não tenho maxilopernas, cabeçapeitos, bigodesfiapos. Minha altura: sou mais alto que uma formiga, menor que um elefante. Tenho dois olhos. Será que não basta sobre mim?
Ka era meu amigo; eu amei por seu gênio de pássaro, despreocupação, espírito. Ele era cômodo como uma capa impermeável. Ele ensinaca que há palavras, com as quais é possível ver, palavras-olhos e palavras-mãos, com as quais é possível fazer.
Eis alguns de seus feitos.

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